“Fala Xará!” Não tinha outro jeito de Nelson Cardin me
cumprimentar. E não faltava, claro, aquele sorriso nos lábios. Short, camiseta
e tênis eram seus trajes diários a qualquer hora do dia. E isso tinha lógica:
Nelson Cardin era professor de tênis no Clube Jundiaiense. E, na década de 1970,
a quadra de trabalho de Cardin era na sede central. Hoje, ela não existe mais! Ao
lado da quadra, uma sala onde ele ficava entre uma aula e outra e dali até a
redação do Jornal da Cidade não lhe tomava muito tempo. E sempre com seu velho
Fusca bege...
Além de professor de tênis, Nelson Cardin acabava sendo um
assessor de imprensa do Clube, pois era comum vê-lo circulando pela redação do
jornal. E não só com resultados de tênis, mas de todos os esportes e muitas
vezes trazia consigo o diretor social para divulgar um próximo baile.
Interessante era perceber sua rapidez ao resolver os assuntos: não se demorava muito
para decidir: a situação acontecia na hora.
E foi nesta ida e vinda constante à redação que acabamos
afinando nossa amizade até que ele teve a ideia de criar um jornal para o
Clube. Afinal, dizia ele, seus amigos eram eu, Plínio Vicente e Aurélio
Rodella, todos jornalistas, todos da redação, todos os dias juntos. E sua
conversa com o presidente do Clube – o inesquecível Romão de Souza – acabou
definindo a estreia do novo produto. E não era difícil fazer o jornal: Cardin
colhia as informações, eu e Plínio – que deixou o grupo a partir da segunda
edição – fazíamos os textos e Aurélio era o fotógrafo do grupo. Mas entre idas e vindas, o grupo acabou se
resumindo em Cardin e eu. E ficamos juntos até o início dos anos 80, quando me
mudei para Campinas.
Mas no meu retorno a Jundiaí, quinze anos depois o
reencontro, como sempre sorrindo e repetindo o “fala Xará!” E neste retorno ele
fez questão de me presentear com uma encadernação completa das edições do
jornal do Clube que fizemos juntos.
Se existem fatos inesquecíveis numa amizade, não posso
deixar de citar algo curioso. Numa manhã quando Cardin passou pela redação, eu
estava ao telefone, recebendo a informação de que minha carta de motorista
estava pronta. E o “Xará” ouviu a conversa e foi rápido: “te levo lá, vamos”,
disse ele. Apanho a carta e retorno ao Fusca bege, mas ele já está sentado no
lugar do passageiro. “Senta aí Xará. Você agora pode dirigir!” Rindo e tremendo
acabei apanhando o volante e retornando à redação.
Prestativo, cordial, alegre, atencioso. Assim era Nelson
Cardin. Não faz muito que partiu. Mas deixou a certeza de que a vida é curta,
que precisa ser aproveitada ao máximo e que as amizades se formam em pequenos
gestos ou frases. Mesmo que seja um simples “Fala Xará!” que ficou gravada na
minha memória, mas que será repetida por ele, com certeza, no nosso encontro na
eternidade!
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