Férias escolares nem sempre têm lembranças agradáveis. E agradável é poder acordar mais tarde, brincar o dia inteiro e esquecer os livros durante não sei quantos dias. Se bem que férias de julho, na década de 1950, tinha professor que deixava dever para o mês inteiro: 30 problemas de Matemática, 30 textos para serem lidos, 30 redações. Enfim, férias não tão completas assim...
Mas tem dia nas férias que a gente não gostaria que existisse. É que todo ano, durante as férias, eu e meus irmãos tínhamos de tomar limonada purgativa. Uma garrafinha de 200 ml que tínhamos de virar na boca de uma vez, esperar uma hora e passar o dia no banheiro.
Cada dia um dos filhos de dona Angelina passava por isso, “para não congestionar o banheiro”. E não tinha outro jeito: cinco horas da manhã ela nos acordava com o copo na mão. Olhos fechados, movidos pelo sono “engolíamos” aquilo sem a menor alegria.
Pensávamos que isso só acontecesse com a gente, mas quando alguns anos mais tarde arrumei meu primeiro trabalho e justamente numa farmácia, vi que isso era comum: nos meses de junho e janeiro o farmacêutico responsável comprava caixas e mais caixas de limonada purgativa para serem vendidas. E me lembro que vendia “aos montes”.
O objetivo era aproveitar as férias para “limpar” o organismo e, no reinício das aulas, tomar vitaminas que nos deixariam mais fortes. E dá-lhe Biotônico Fontoura ou Iofoscal. O primeiro, com uma leve quantidade de álcool e o segundo composto por iodo, fósforo e cálcio.
Ingerir a limonada não era nada, já que o fazíamos ainda sonolentos. Difícil era chegar ao banheiro e encontrá-lo ocupado...
Aproveitávamos este momento para colocar em dia os deveres de férias, já que estávamos “condenados” a não sair de casa. E muitas vezes combinávamos com amigos de que teriam de vir brincar em nossa casa ou que iríamos na casa deles, já que dependia de quem fosse tomar a limonada purgativa no dia seguinte. O curioso é que no final de semana, quando todos já tinham ingerido o trágico líquido fazíamos as contas pra ver em quem o produto teria provocado mais efeito...
Interessante ver como certos conceitos desaparecem para sempre! Limonada purgativa, com certeza, deve ter levado muito laboratório à falência, já que a procura por tal produto é praticamente nenhuma.
Mas aquele gostinho amargo na boca, aquele sabor de “não quero mais”, resiste aos tempos. Uma mania que muita gente não faz questão de lembrar!...
Meu Deus, você me fez voltar no tempo. Minha avó fazia isso com os outros netos dela, comigo e minha irmã, não. Meu pai não deixava! KKKKK Adorei o texto. Namastê
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