terça-feira, 6 de março de 2012

“Qui bunitinho!”

Três dias depois do nascimento de meu filho Tiago, o apresentamos à minha mãe, Angelina. Pouco mais de um ano antes, ela sofrera um acidente vascular cerebral e ainda vinha lutando para recuperar os movimentos do corpo e da voz...
Quando minha esposa, Rita de Cássia, tirou a manta que cobria o corpo do pequeno menino, me emocionei ao ver a reação de minha mãe. Percebi duas lágrimas voando de seus olhos. “Qui bunitinho!”, disse ela, sorrindo e chorando. Meus olhos marejaram, mas Rita foi rápida: fez minha mãe se sentar para poder carregar o pequeno neto. O oitavo de Angelina e Alcindo.
O contato de minha mãe com o último neto foi curto. Por morar em Campinas, na época, acabou ficando difícil minha vinda a Jundiaí e, por causa da dificuldade dela se locomover, os encontros com Tiago acabaram sendo apenas em ocasiões especiais, como aniversários, Natal, Ano Novo, Dia das Mães, Dia dos Pais e uma ou outra visita mais rápida.
O tempo é curto demais nesta vida para ficarmos distantes das pessoas que amamos, mas as circunstâncias, às vezes, não permitem outra situação. E a última vez que minha mãe e meu filho se encontraram, foi no segundo aniversário do menino. Foram muitas as trocas de carinhos de minha mãe, com ele, mas a frase, sempre que ela o via era a mesma: “Qui bunitinho!” Apesar da vontade de voltar a falar e andar normalmente, e a movimentar os braços, ela jamais conseguiu seu objetivo.
Foram poucas as vezes, já disse, que os dois se encontraram, mas o agora adulto, já com quase 26 anos, Tiago tem uma vaga lembrança de dona Angelina: a bengala que a acompanhou durante os quatro ou cinco anos que viveu após o acidente vascular cerebral. Pouco mais de dois anos depois que dona Angelina se foi, quem partiu foi seu Alcindo.
Mas a vida, se nos tira uma pessoa, nos coloca outra. Nem todas com as mesmas virtudes e defeitos, mas todos seres criados à imagem e semelhança de Deus e que sempre merecem nosso respeito. E Tiago convive hoje – aliás, desde seu nascimento – com o pai de Rita, seu Alcides, com 93 anos completados neste mês de março. Sua mulher e minha sogra, dona Graciosa, faleceu há quatro anos. E como sempre surgem pessoas novas em nossas vidas, Tiago vive para cima e para baixo com sua namorada.
É sempre uma alegria ver a felicidade dos outros e toda vez que Tiago chega ou da escola ou do lazer ou da casa de amigos ou namorada, tirando o boné ou procurando comida na geladeira ou o refrigerante para bebericar junto com alguma guloseima, parece que ouço o eco vindo do outro lado da casa... “Qui bunitinho!”

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