sexta-feira, 18 de maio de 2012

Te pego lá fora!!!

Tímido, medroso e assustado. Assim era eu nos primeiros anos de escola. Lembrar do Primário no Grupo Escolar Paulo Mendes Silva é um fato histórico, principalmente porque o prédio, na rua General Carneiro, esquina com a avenida Fernando Arens, não existe mais. Foi ali que fiz os quatro anos do Primário e, por causa deste jeito tímido de ser, pouco conversava com os colegas de classe. Outra diferença é que as carteiras comportavam dois alunos ao mesmo tempo. E, claro, minha conversa se restringia a este colega. As aulas tinham três horas de duração: eram das 11 às 14 horas, inclusive aos sábados. E, diante do meu "bom comportamento" era o escolhido pelas professoras para marcar o nome dos colegas que conversavam sempre que uma delas tinha que deixar a classe. Dona Benedita fazia pouco isso. No primeiro ano, por minha classe ser ao lado da Diretoria, sempre que dona Benedita precisava se ausentar, chamava alguma secretária da Diretoria para evitar "bagunça". Mas dona Odete tinha classe do outro lado do prédio, bem longe da Diretoria e todo dia tinha que deixar a classe. E lá ia eu escrever, no quadro-negro, o nome dos alunos que conversavam. Nos primeiros minutos de ausência da professora, a classe conseguia manter o silêncio, mas como só haviam meninos na classe (naquele tempo era primeiro ano A masculino, primeiro ano B feminino e assim por diante), a bagunça se fazia presente. Rezava para a professora aparecer logo, pois a gritaria era geral. Se não escrevesse os nomes na lousa, com certeza, levava bronca da professora e se fizesse o contrário, sofria ameaças: "tira meu nome daí senão te pego lá fora!!!" O nome ficava no quadro-negro e me preparava para o pior . Confesso que tremia de medo, mas me gabava de minha esperteza: terminada a aula, saía correndo da sala. Sabia que, por ser pequeno, de pernas curtas, não conseguiria ir muito longe. Quando ouvia o sinal, meu material estava dentro da bolsa. Rapidamente me levantava e já estava na rua... Meu amigo Amaury me dava cobertura. Quando soava o sinal, ele corria até o ameaçador para puxar assunto, distrair a atenção dele, assim eu podia sair rapidamente da escola. Era comum carrinhos de pipoca e raspadinha estacionados em frente ao portão da escola. Até porque, por onde saíam os alunos de um horário, entravam os do horário seguinte. E este era meu esconderijo: atrás de um dos carrinhos. Me colocava de frente para o portão, para ver o desafeto sair à minha "caça". Escondido atrás do pipoqueiro, seguia com os olhos seus passos. Enquanto ele subia a Fernando Arens, me procurando, eu descia a General Carneiro, entrava na Frei Caneca, sempre atento nas calças curtas azul-marinho, camisa branca e rumava para casa. Perto da Sifco entrava na avenida São Paulo e corria para casa. Esta caça, na verdade, acontecia toda semana, e foi sempre um risco que corri. Em casa, nunca ninguém soube disso. Chegava feliz, vibrando de alegria pela minha coragem de manter o nome do bagunceiro na lousa, apesar de não encarar uma briga. Tudo bem que era uma briga desnecessária, mas para os colegas de classe eu não passava de um medroso, de um fujão. Mas isso só fui analisar anos mais tarde. No dia seguinte nem olhava para a cara do "valentão", só comentava como tinha conseguido fugir da briga para o Amaury. Durante a aula, porém, minha preocupação era uma possível ausência de novo da professora e voltar a correr risco. E, claro, correr para me esconder...

Um comentário:

  1. Bela história! Emais a lembrança do "te pego ma fora" um terror,acontecia muito mesmo rsrsrs

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