sábado, 6 de julho de 2013

Bença mãe, bença pai!

A frase era diária e era exatamente dita deste jeito “Bença mãe, bença pai” E saía eu de casa ou para a escola ou para a missa dominical ou, mais tarde, já adulto, para o trabalho ou para a faculdade ou até mesmo para namorar. Não tinha outro jeito: costume era costume. E lá ouvia ela responder de lá de onde estivesse “Deus te abençoe, meu filho!” E o fazia duas vezes, pois meu pai pouco ouvia e se ouvia respondia baixinho que mal ele podia ouvir. E minha mãe, Angelina, fazia as vezes dele, respondendo também por ele e abençoando a mim e a meus irmãos, quando saíamos de casa. Antes de dormir, a rotina se repetia. Mas só com minha mãe, pois meu pai já se recolhera, exatamente na hora em que terminava o “Repórter Esso”. E o “Bença mãe, bença pai” era rotina. Às vezes era motivo de riso, pois para andar um quarteirão para ir à padaria, o costume nos impunha um “bença mãe”, pois meu pai Alcindo se mantinha na luta, na área de conferente, na Estrada de Ferro Santos a Jundiaí. O “Deus te abençoe” sai com um sorriso, mas era motivo de alegrar o ambiente, pois a gente sabia que Deus estava ali conosco. Sempre! O passar dos anos nunca alterou esta rotina e me lembro que, no dia de meu casamento, saindo de casa, com o carro parado na porta me esperando, abracei minha mãe e disse que estava saindo de casa para começar uma nova vida e que ela precisava me abençoar. Senti uma emoção forte nela naquele instante e o “Deus te abençoe” soou com um respirar bem fundo, para conter uma eventual lágrima e o abraço afetuoso nos fez mais felizes. Seu Alcindo olhou tudo isso dois metros mais longe de nós, ainda acertando o nó da gravata. E o abraço e o “Deus te abençoe” também foi seguido de uma grande emoção. Mas hoje, quase 34 anos depois deste “Bença mãe, bença pai”, ainda ecoa dentro de mim, toda noite, quando me deito para dormir, o “Deus te abençoe, meu filho!” dito com um sorriso doce por minha mãe e também visualizo o jeito sorridente de meu pai, observando toda cena.

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