segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um porquinho bem diferente (No meu tempo de criança XIII)

Era para ser um leitãozinho que seria saboreado no Natal. Nem nome foi dado a ele, mas isso não impediu que sua história fosse completamente diferente daquela que havia sido planejada. Meu pai o comprou não me recordo exatamente em que mês, mas foi por volta do meio do ano, com a intenção de que participasse do nosso Natal como prato principal. Nos primeiros dias de sua chegada a nossa casa, todos estranharam a sua presença, inclusive nossos outros animais (gato, cachorro e galinhas). Mas, como nosso quintal era suficientemente grande, arranjou-se um cantinho para ele morar. Ele foi crescendo e também o nosso carinho por ele. Eu e meus irmãos fomos nos apegando cada vez mais ao simpático porquinho sem nome. Também o gato e o cachorro passaram a vê-lo não mais como um intruso estranho, mas como um novo companheiro. Os três tornaram-se amigos e estavam quase sempre juntos. No interior de nossa casa havia uma escada de aproximadamente 20 degraus e era muito divertido ver o porquinho deslizar por ela abaixo, tentando acompanhar o gato, mas não conseguindo devido às suas pernas curtas e corpo roliço. Nessa altura ele já não ficava preso, mas corria livremente pelo quintal. Sua diversão preferida era grunhir, juntamente com nosso cachorro - os dois em pé no portão, quando o caminhão de coleta de lixo passava. Assim, nosso amor por ele foi crescendo dia após dia, enquanto se aproximava o Natal daquele ano. Não queríamos mais que ele fosse abatido, mas meu pai achava que não haveria outro jeito, pois ele já estava ficando grande demais para nossa casa. Quando chegou a véspera do Natal, meu pai, sem qualquer experiência no abate de porcos ou de qualquer outro animal, não deu ouvidos a nossos chorosos pedidos de clemência para o porquinho e preparou-se para executar o seu propósito. Porém, como tudo que envolvia o nosso amiguinho era inusitado, a forma que meu pai escolheu para dar cabo dele foi utilizando uma arma de fogo. Chegada a hora, meus irmãos e eu chorando muito, meu pai, com seu revólver em punho, trancou-se com o porquinho em um pequeno quarto que ficava no quintal e, passados alguns intermináveis segundos, ouvimos o disparo. Choramos ainda mais copiosamente e ficamos esperando a saída de meu pai com nosso amiguinho morto. Porém, ao abrir-se a porta do quartinho, quem saiu primeiro foi o porquinho. Meu pai não teve coragem de matá-lo e acabamos comendo mesmo um frango assado na ceia do Natal. Assim, passaram-se mais alguns meses, até que o porquinho já não era mais porquinho. Não era tão gordo como se esperaria de um porco adulto – graças às suas constantes corridas pelo quintal. Mas já não era possível mantê-lo em nossa casa, pois mesmo para ele já não estava sendo confortável. Meu pai resolveu doá-lo a um conhecido médico de Jundiaí, que possuía um chácara na zona rural da cidade. Aí, houve mais peripécias envolvendo o transporte do porquinho – já não tão porquinho assim – para a tal chácara. Mas isso é outra história! (Uma história de Aldo de Lucca Júnior. Texto: Aldo de Lucca Júnior)

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